terça-feira, 6 de maio de 2014

Pragmático ou Teocrático?


Um dos grandes perigos em que a igreja contemporânea está passando é com a sutil invasão do pragmatismo. O pragmatismo, no seu conceito básico, diz que o que funciona é o certo, e se não funciona, não serve, está errado. Segundo John MacArthur, o pragmatismo tem as suas raízes no humanismo secular. É essencialmente relativista, rejeitando a existência de absolutos. Quando o pragmatismo é utilizado para se formular o juízo acerca do certo e do errado, ou quando se torna a filosofia norteadora da vida, da teologia e do ministério, acaba, inevitavelmente, se chocando com as Escrituras. A verdade espiritual e bíblica não é determinada baseando-se no que funciona ou no que não funciona. 
Vemos, hoje, alguns ministérios buscando novas formas de “revitalização”, ou até mesmo de “plantação” de novas igrejas, utilizando-se de plataformas pragmáticas. Tais trabalhos têm substituído a mensagem do verdadeiro evangelho por práticas e métodos que vem adulterando a genuína mensagem bíblica e as formas litúrgicas de cultuar a Deus. Dentre essas mudanças podemos apontar para algumas de ordem litúrgica. A pregação ou a exposição das Escrituras substituída por palestras.  Outro ponto, a palavra pecado é terminantemente proibida. Muito em razão que o termo pecado, para essa nova forma de ministério, não é algo, como dito, politicamente correto, principalmente para alguns que buscam uma igreja “amigável”. Nisso tudo, o que temos visto, como resultado, é um evangelho deturpado e adulterado, um culto superficial e irreverente, com o objetivo de tornar a igreja um lugar agradável onde o ouvinte possa se sentir confortavelmente bem.
E por que isso? Qual o objetivo desses tipos de ministérios? O maior esforço desses trabalhos está na tentativa de trazer o máximo de pessoas para dentro dessas “novas comunidades”. A quantidade justifica os métodos. Constatamos que a aferição do sucesso desse tipo de ministério, portanto, está diretamente relacionado ao número de frenquentadores. Dessa forma, tudo é válido para que mais e mais pessoas sejam atraídas para uma igreja amigável e diferente. Nesse sentido, o pragmatismo se apresenta como uma grande ferramenta.

Mas será que é isso que Cristo, verdadeiramente, deixou como missão para a Sua igreja? Será que é a quantidade de pessoas que se reúne semanalmente reflete, de fato, um ministério de sucesso?

No texto do Evangelho, segundo João, no capítulo 6, temos ali, nos versos de 1 até 15, a multiplicação dos pães e peixes. Naquele dia Jesus alimentou cerca de cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças que lá estavam. Nos próximos versos, desse mesmo capítulo, a partir do verso 22, a grande multidão, que fora alimentada, procurou novamente Jesus no dia seguinte, com o intuito de receber gratuitamente a maravilhosa refeição que tiveram no dia anterior. Desta vez, Jesus, ao ser abordado por eles, e conhecendo aquilo que estava em seus corações, os advertiu do grande perigo a que eles estavam se dirigindo por procurá-lo apenas para satisfazerem as suas necessidades, e não por aquilo que Ele, o Cristo, poderia fazer-lhes em relação a Deus. Veja o que Jesus declara (vs. 26,27): “Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.” Ao receberem esse aviso de Jesus e, ao mesmo tempo, sendo informados pelo Senhor quem Ele era de fato, o Pão do Céu, e sobre tudo o que o Cristo haveria de passar para trazer-lhes, através do Seu sacrifício a reconciliação com o Pai, dizendo da seguinte maneira (v. 51): “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.” Com essa declaração, eles ficaram atônitos, perplexos e consequentemente escandalizados. Nesse mesmo dia, muitos já começaram a abandoná-lo, e não mais o seguiam. Inclusive alguns dos discípulos também se mostraram escandalizados com tais declarações do Senhor. Jesus, então, mostrou que a sua mensagem não é para satisfazer os corações humanos, mas para que o pecador conheça a vontade de Deus e venha a se arrepender dos seus pecados (v.63). Jesus disse: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.” 

Vemos, claramente, que o Senhor não veio para trazer “prazer”, naquilo que os homens buscam para si e para as intenções dos seus corações. Jesus veio trazer a salvação e a transformação dos pecadores através do Seu sacrifício na cruz. Essa mensagem, agora, a igreja ficou incumbida, pelo próprio Senhor, de anunciá-la (Mateus 28.18-20). Portanto, a Grande Comissão deixada por Cristo é a verdadeira missão da igreja.

Nesse sentido, o Senhor deixou a Sua Palavra, para a igreja, como a única regra de fé e prática. Nessa Palavra a igreja deve ser edificada e discipulada. Nessa Palavra a igreja deve ser fundamentada em viver e testemunhar uma genuína vida cristã. A regeneração da Salvação é evidenciada pela renúncia do velho homem e o revestir-se da nova criatura, regenerada em Cristo (Efésios 4.22-24). Portanto, a igreja não deve se conformar ao mundo (Romanos 12.1,2), mas ser o agente diferenciador no tocante a uma genuína relação com Deus e com o ministério que lhe foi outorgado por Cristo (Atos 1.8).

Vemos, portanto, que a igreja de Cristo não é pragmática, mas sim teocrática, ou seja, ela deve ser submissa e obediente ao senhorio e ao governo de Jesus. E tudo o que ela se proponha a fazer, e principalmente na exposição das Escrituras e no anúncio da mensagem da Salvação, devem ser feitos não para o agrado da vontade humana, mas somente para a Glória de Deus (1 Coríntios 10.31).