Um dos grandes
perigos em que a igreja contemporânea está passando é com a sutil invasão do
pragmatismo. O pragmatismo, no seu conceito básico, diz que o que funciona é o
certo, e se não funciona, não serve, está errado. Segundo John MacArthur, o
pragmatismo tem as suas raízes no humanismo secular. É essencialmente
relativista, rejeitando a existência de absolutos. Quando o pragmatismo é
utilizado para se formular o juízo acerca do certo e do errado, ou quando se
torna a filosofia norteadora da vida, da teologia e do ministério, acaba,
inevitavelmente, se chocando com as Escrituras. A verdade espiritual e bíblica
não é determinada baseando-se no que funciona ou no que não funciona.
Vemos, hoje, alguns
ministérios buscando novas formas de “revitalização”, ou até mesmo de
“plantação” de novas igrejas, utilizando-se de plataformas pragmáticas. Tais
trabalhos têm substituído a mensagem do verdadeiro evangelho por práticas e
métodos que vem adulterando a genuína mensagem bíblica e as formas litúrgicas
de cultuar a Deus. Dentre essas mudanças podemos apontar para algumas de ordem litúrgica.
A pregação ou a exposição das Escrituras substituída por palestras. Outro ponto, a palavra pecado é terminantemente
proibida. Muito em razão que o termo pecado, para essa nova forma de ministério,
não é algo, como dito, politicamente correto, principalmente para alguns que
buscam uma igreja “amigável”. Nisso tudo, o que temos visto, como resultado, é
um evangelho deturpado e adulterado, um culto superficial e irreverente, com o
objetivo de tornar a igreja um lugar agradável onde o ouvinte possa se sentir
confortavelmente bem.
E por que
isso? Qual o objetivo desses tipos de ministérios? O maior esforço desses
trabalhos está na tentativa de trazer o máximo de pessoas para dentro dessas “novas
comunidades”. A quantidade justifica os métodos. Constatamos que a aferição do
sucesso desse tipo de ministério, portanto, está diretamente relacionado ao
número de frenquentadores. Dessa forma, tudo é válido para que mais e mais
pessoas sejam atraídas para uma igreja amigável e diferente. Nesse sentido, o
pragmatismo se apresenta como uma grande ferramenta.
Mas será que é
isso que Cristo, verdadeiramente, deixou como missão para a Sua igreja? Será
que é a quantidade de pessoas que se reúne semanalmente reflete, de fato, um
ministério de sucesso?
No texto do Evangelho,
segundo João, no capítulo 6, temos ali, nos versos de 1 até 15, a multiplicação dos pães
e peixes. Naquele dia Jesus alimentou cerca de cinco mil homens, sem contar as
mulheres e crianças que lá estavam. Nos próximos versos, desse mesmo capítulo, a
partir do verso 22, a
grande multidão, que fora alimentada, procurou novamente Jesus no dia seguinte,
com o intuito de receber gratuitamente a maravilhosa refeição que tiveram no
dia anterior. Desta vez, Jesus, ao ser abordado por eles, e conhecendo aquilo
que estava em seus corações, os advertiu do grande perigo a que eles estavam se
dirigindo por procurá-lo apenas para satisfazerem as suas necessidades, e não
por aquilo que Ele, o Cristo, poderia fazer-lhes em relação a Deus. Veja o que
Jesus declara (vs. 26,27): “Em verdade,
em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque
comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas
pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque
Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo.” Ao receberem esse aviso de Jesus
e, ao mesmo tempo, sendo informados pelo Senhor quem Ele era de fato, o Pão do
Céu, e sobre tudo o que o Cristo haveria de passar para trazer-lhes, através do
Seu sacrifício a reconciliação com o Pai, dizendo da seguinte maneira (v. 51):
“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se
alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo
é a minha carne.” Com essa declaração, eles ficaram atônitos, perplexos e consequentemente
escandalizados. Nesse mesmo dia, muitos já começaram a abandoná-lo, e não mais
o seguiam. Inclusive alguns dos discípulos também se mostraram escandalizados
com tais declarações do Senhor. Jesus, então, mostrou que a sua mensagem não é
para satisfazer os corações humanos, mas para que o pecador conheça a vontade
de Deus e venha a se arrepender dos seus pecados (v.63). Jesus disse: “O espírito é o que vivifica; a carne para
nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.”
Vemos, claramente,
que o Senhor não veio para trazer “prazer”, naquilo que os homens buscam para
si e para as intenções dos seus corações. Jesus veio trazer a salvação e a
transformação dos pecadores através do Seu sacrifício na cruz. Essa mensagem,
agora, a igreja ficou incumbida, pelo próprio Senhor, de anunciá-la (Mateus
28.18-20). Portanto, a Grande Comissão deixada por Cristo é a verdadeira missão
da igreja.
Nesse sentido,
o Senhor deixou a Sua Palavra, para a igreja, como a única regra de fé e
prática. Nessa Palavra a igreja deve ser edificada e discipulada. Nessa Palavra
a igreja deve ser fundamentada em viver e testemunhar uma genuína vida cristã. A
regeneração da Salvação é evidenciada pela renúncia do velho homem e o
revestir-se da nova criatura, regenerada em Cristo (Efésios 4.22-24). Portanto,
a igreja não deve se conformar ao mundo (Romanos 12.1,2), mas ser o agente
diferenciador no tocante a uma genuína relação com Deus e com o ministério que
lhe foi outorgado por Cristo (Atos 1.8).
Vemos,
portanto, que a igreja de Cristo não é pragmática, mas sim teocrática, ou seja,
ela deve ser submissa e obediente ao senhorio e ao governo de Jesus. E tudo o
que ela se proponha a fazer, e principalmente na exposição das Escrituras e no
anúncio da mensagem da Salvação, devem ser feitos não para o agrado da vontade
humana, mas somente para a Glória de Deus (1 Coríntios 10.31).